terça-feira, 10 de maio de 2011

Um trecho de Divã.

Sou eu que começo? Não sei bem o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações. Tenho vontade de cometer haraquiri quando me convidam para um chá de fraldas e me sinto esquisito à beça usando um lencinho amarrado no pescoço. Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo. Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras: ninguém desconfia do meu hermafroditismo cerebral. Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e um verdadeiro desastre na cozinha. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para gatos.
(Divã, Martha Medeiros, página 9)


Tirando a parte do "sou um desastre na cozinha", eu me considero a personificação viva dessa personagem. Li somente as primeiras páginas desse livro ainda, porém já assisti ao filme e tenho a certeza de que me divertirei ainda mais com a história e as dúvidas e os medos de Mercedes.
Recomendo o filme, recomendo a obra. E recomendo Martha Medeiros!

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